Onde se perderam ...


Quando ela entrou naquela casa vazia pela primeira vez, antes mesmo de escolhê-la, um aperto no peito a afligiu.

Vazia...

Esvaziara-se... Esgotara-se.

Olhava para os cômodos nus e enxergava neles cacos estilhaçados. O encanto havia se quebrado. Os cacos não se reconstruiriam sozinhos.

Seus passos ecoavam na imensa solidão do espaço.

Ecos do silêncio de duas almas perdidas... Perderam-se naquela vastidão. Tudo era tão grande e agora parecia tão pequeno. Sozinhas, acompanhadas, deixaram que as palavras não-ditas corroem-se seus corações. Transformaram a imensidão em algo tão pequeninho, que era difícil de tocar, de encontrar.

Ela olhava para aquele vazio, pensando em povoá-lo. Mas como, com o que?

Outrora a casa foi povoada. Móveis enchiam-lhe o espaço, mas traziam consigo resquícios do passado. Lembranças, com a esperança de preenchimento... Só que tudo era vazio. Um vazio preenchido de solidão.

Era na procura da escolha que a ficha caia. Sonhos se desfaziam no esvaziamento daquele espaço. Acabaram-se os carinhos, as demonstrações de afetos, o abraço apertado, o beijo desejoso. Esvaziaram-se os cômodos, os lugares, os corações, os corpos. Petrificaram-se no silêncio da solidão a dois.

A casa estava vazia. Sem o mínimo resquício de que um dia fora habitada. Pelo que?

Era na procura da casa a ser preenchida que tudo se desnudava. Onde estavam os risos? O burburinho do povoamento? O que havia restado para ser levado consigo? Mas no chão frio daquela casa vazia só havia cacos, pedaços do que outrora era alguma coisa. O que?

A casa estava vazia. De nada. Trocava uma por outra, a ser preenchida.

Quando ela entrou naquela casa vazia, agora para ficar, apenas chorou.

Onde se perderam?

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