Sofrenildo sai em férias



Então ele resolveu sair de férias. Depois de adiá-las, estava definido: 15 dias de ócio. Na programação, um casamento e uma viagem com a mãe. Depois, só sombra e água fresca em Camboriú. No meio do caminho, no entanto, surgiu uma viagem pra Bahia e, para não perde-la, resolveu ampliar as férias e ficar 24 fora do trabalho.
Desceu assim, de carro para o Rio Grande do Sul. Mais precisamente, para o interior do estado, para o casamento. Uma festança só, daquelas em que a gente encontra os amigos da infância. Na viagem, chuva. Na volta, no caminho para o aeroporto, quem estava sob o carro: uma nuvenzinha. Mas tudo bem. Ele ia sair do Sul para o Nordeste e, lá, sim: sombra e água fresca.
E lá na Bahia a meta era voltar “neguinho”. Tinha obrigação de trazer no corpo a marca do sol. Mas a viagem que ele pensou que ia ser moleza, era uma correria só: de um lugar para o outro e, quando finalmente chegou ao Paraíso – diga-se Morro de São Paulo, o lugar considerado mais bonito daquela costa – eis que, quem estava lá? A nuvenzinha. Era como se ele carregasse em cima da cabeça uma nuvem, cheia de chuva, que o acompanhava. Ok, haveria outra oportunidade de sol, em um lugar maravilho: no Rio. E, além disso, depois de lá rumaria para Camboriú. Então, tudo bem, ainda tinha metade das férias para curtir.
Pegou o avião, confiante de que aquele que insistia em fugir, apareceria em outro lugar. Mais uma vez pegou a estrada, desta vez com a mãe e o resto da família. Destino: Cidade Maravilhosa. Chegaram lá de tarde e foram direto para a praia. E lá chegando, descobriu que a continuação das férias estava em perigo: Santa Catarina estava debaixo de água, a maior enchente dos últimos anos. Praia em Camboriú, depois do Rio? Nem pensar...
No outro dia, aquela parada clássica: Cristo Redentor. Quando atravessam o túnel, rumando para o bairro, o tempo do outro lado do buraco é outro: enuviado. Mas tudo bem, Sofrenildo estava de férias e nada poderia abalá-lo. Subiu o Cristo e foi tirar aquela foto tradicional, ao pé do Redentor. A mãe, o papagaio e o periquito fizeram as suas fotos. Agora era a vez dele: click. Correu para ver: não aparecia o Cristo! Apenas uma grande neblina. Justo na foto dele! Tá bom, a solução era ir pra praia. Curtiu o resto do dia, com os pés na areia...
Mais uma vez, pegou a estrada, rumo ao Sul. Mudanças de planos: já que não poderia curtir as praias, curtiria um futebol em Porto Alegre. Foi desviando de queda de barreira, aumentando os percursos para fugir da enchente e chegar, são e salvo à terra natal. Se o resto das férias tinham sido problemáticas, agora o fim seria bom.
Mas Sofrenildo estava em férias e, para Sofrenildo, isso não é algo comum. Lá embaixo do Hemisfério ele descobriu que havia cortes em seu emprego e que o retorno seria complicado, com muito mais trabalho. E, mais uma vez, a nuvenzinha o acompanhava. E, junto com ela, uma coceira no pé. Tinha pegado bicho-de-pé nas areias de Copacabana. Ah, não! Isso já era demais!
As férias estavam acabando e, para coroa-las, Sofrenildo foi ao campo ver o seu time jogar. Era final do campeonato. Ou tudo o nada. Primeiro tempo e nada. Segundo tempo e gol do adversário. Sofrenildo olhou pro céu: não havia nuvens. Pensou naqueles 20 dias de férias até ali. O pouco do sol que pegou já estava desbotando. Alguma coisa tinha de dar certo! O tempo passava e o jogo não avança. Apito final. Agora ia pra prorrogação. Dois tempos de 20 minutos. Os primeiros 20 aconteceram e, mais uma vez, nada. Começaram os últimos 20... O coração de Sofrenildo estava a mil. Era tudo ou nada. E eis que algo aconteceu. Caiu um temporal em Porto Alegre.
Brincadeirinha. Um pênalti. Uma falta marcada a favor do time dele. Era a hora. E foi: goooooooooooooooooooooooool. Para coroar as suas férias Sofrenildo levou consigo, além da lembrança física do bicho-de-pé, uma faixa de campeão.
No outro dia, pegou mais uma vez a estrada e, quando chegou em casa, quem estava em cima de sua cabeça? Um baita de um sol.
Sampa
Dezembro/08

Comentários

Anônimo disse…
Adorei,senti aquele prazer de ouvir as risadas gostosas do meu pai lendo as desventuras do sofrenildo,amei mesmo parabéns!!

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